Monte da Casteleja

Jornal 123… Outubro 2009

Francês com costela algarvia

Guillaume Leroux, nascido em Paris, filho de mãe portuguesa de Lagos e pai francês da Bretanha, é um deles. Fez formação em viticultura e enologia em Montpellier e uma pós-graduação em biotecnologia no Porto, em parceria com uma universidade australiana. Aí conheceu alguns enólogos de referência portugueses e foi para o Douro, onde passou pela Taylor’s, pela Quinta do Côtto e pela Quinta do Tedo, e por ali esteve cinco anos, ganhando experiência e conhecimentos e contactando com o mundo do vinho profundo.
«O Douro foi uma escola prática, uma experiência fundamental para conhecer e entender o mundo do vinho e, sobretudo, a viticultura. Ali aprendi a conhecer os solos e todas as suas componentes, o que me deu experiência para poder escolher as melhores soluções no Algarve», disse à NS’.

O avô materno, nascido em Sagres, comprou em tempos uma quinta perto de Lagos que apenas tinha vinhas de bordadura. Em 1998, Guillaume começou a idealizar o seu próprio projecto, afinal o seu grande sonho. Andava a analisar castas portuguesas tradicionais quando descobriu o Bastardinho de Sagres, quase extinto. Estudou os solos, fez comparações, pesquisou e começou por plantar Bastardo e Alfrocheiro nos tintos, Arinto e Perrum nos brancos. Plantou, modernizou, inovou – mas sem utilizar rega, uma das suas teimosias, pensando sempre em fazer vinhos de gama média alta.

«Quero continuar a fazer vinhos simples, naturais, de quinta, mas de qualidade superior. É esse o meu objectivo. E enquanto puder não vou utilizar rega nas minhas vinhas, é uma teimosia minha!»

Para a adega foi comprando material em segunda mão mas com a qualidade mínima necessária, muitas vezes rudimentar, adaptando-o àquilo que pretendia fazer, que era bom vinho, desenvolvendo a sua ideia de vinho do produtor, vinho de quinta.
Neste momento estão no mercado os seus Monte da Casteleja branco, rosé e tinto, e o Maria Selection tinto, um vinho mais sofisticado, especial. Com a ajuda da mulher, vende o seu vinho directamente na restauração, em lojas da especialidade e à porta da adega, tentando manter uma independência que considera fundamental.

O produtor nunca se dá por satisfeito e procura sempre novas soluções, como por exemplo as favas que planta entre as vinhas, na sua época, o que, além de ser esteticamente interessante, vai dar nutrientes naturais aos solos e, logo de seguida, alimentar os nossos pratos com petiscos como umas favas com chouriço e coentros.