Monte da Casteleja

Joaninha Outono 2015 – Cultive o verde, os novos agricultores

Tema de Capa Guillaume Leroux – Monte da Casteleja

A paixão pela natureza faz sonhar alto e nunca desistir

 

É com muito orgulho e prazer que vos relato a edificação do meu projeto do Monte da Casteleja, onde exerço a minha atividade diária de vitivinicultor biológico. Este projeto, criado de raiz na quinta que herdei do meu avô materno, numa zona rural a escassos quilómetros da cidade costeira de Lagos, tem 7 hectares de superfície total. A área maior é ocupada com vinha, as bordaduras plantadas de amendoeiras e figueiras, uma horta fornece os alimentos básicos e os hóspedes do Agroturismo relaxam, num ambiente tranquilo e acolhedor. É um autêntico jardim, que recebe cada vez mais visitantes, curiosos por descobrir o vinho biológico único, produzido artesanalmente, com castas locais e de qualidade bem diferenciada.

Mas como nasceu este projeto? Antes de mais, pelo forte desejo de me tornar agricultor que sentia desde muito novo, de trabalhar ao ar livre e meter as mãos na terra. Há cerca de 25 anos atrás, a minha instalação era ainda uma miragem, existiam muitas questões por esclarecer: que tipo de cultura a implantar, como e a quem comercializar os frutos. Por isso a decisão mais sensata na altura, antes de dar o grande salto, foi a de aprofundar os meus conhecimentos teóricos, numa área que estivesse de acordo com as minhas motivações e ganhar experiência prática em explorações do sector.

Apaixonei-me pelo mundo dos vinhos e trabalhei cerca de 10 anos na área, até achar que tinha ganho experiência suficiente para me instalar por conta própria. Para mim era fundamental dominar toda a cadeia de produção, livre de intermediários. Estudei as castas, o clima, os solos, desenhei novos caminhos, planeei a localização de todas as culturas e o estilo de vinho a produzir. Projetei a evolução da quinta nos anos vindouros. Para assegurar uma rentabilidade inicial foi fundamental a reabilitação da casa em Agroturismo.

Depois foi uma caminhada lenta, mas segura. Na vinha aprendi a ser paciente, a dedicar-me às plantas de corpo e alma. Na adega optei sempre pela aquisição de equipamento usado. A divulgação do produto foi feita de “malinha” na mão, porta-a-porta.

Hoje em dia, passados 15 anos desde a plantação da primeira vinha, a vitivinicultura Portuguesa evoluiu bastante. É cada vez mais uma tecnologia de ponta, onde imperam as normas, de higiene, controlo, certificações, etc… As exigências do mercado obrigam a um elevado rigor na transformação e comercialização do vinho, mas este continua a ser um produto mágico e muito atrativo.

Uma política de qualidade e diferenciação trará sempre frutos a médio prazo. É contudo inegável que o facto de estarmos inseridos numa região turística e com uma população residente de elevado poder de compra tem contribuído para o nosso sucesso.

A quinta entrou agora num novo ciclo: a auto-sustentabilidade. É fundamental melhorar a fertilidade dos solos, com resíduos e a ajuda dos animais da quinta, produzir a sua própria energia, economizar, reciclar e recuperar a água, criar produtos secundários e diversificar ainda mais a oferta. Os planos nunca acabam.

Para terminar diria que a agricultura biológica é sem dúvida a profissão mais bonita e saudável que existe. É apaixonante e gratificante cuidar da natureza, observar os seus contrastes, beleza e mistérios. É um constante desafio que exige muita humildade e entrega, mas recompensa plenamente pelo poder de criação, a alegria e partilha que proporciona.

Conselhos aos Jovens Agricultores

Aconselho os que se iniciam na área a não perderem a motivação pois no início quando apresentei o projeto na região, a algumas pessoas ligadas ao setor, tiveram reações desmoralizadoras, pois não acreditavam no projeto. Nota-se que muitas vezes a valorização da nossa cultura e das nossas tradições é dada pelos de fora enquanto que localmente o que é aconselhado é o investimento nas castas internacionais.

Em relação ao investimento em si, o capital próprio é um fator muito importante em ter em conta, não se pode apenas contar com os subsídios, isso é fundamental.

Se estiverem a pensar em ter um projeto de agricultura no algarve tenham em atenção ao clima. As condições climatéricas do Algarve são favoráveis ao desenvolvimento das plantas não só da vinha como das outras. O inverno é muito curto e há também falta de água durante 5 meses. Para colmatar este problema fiz um projeto com a vinha mais densa para que as plantas tivessem raízes mais fundas, menos vigor e menos necessidade em água. Mas como certos anos não chove o suficiente, nem no inverno nem na primavera, tivemos de recorrer à rega. Mas tento imitar uma trovoada, regando abundantemente á noite, de mês a mês, para a planta não se habituar demasiado á água.

Preparem-se para os constrangimentos burocráticos que são cada vez maiores e a indústria do vinho é fortemente controlada por várias entidades oficiais. Estes constrangimentos retiram-nos muito da promoção e das vendas onde devíamos estar a maior parte do tempo.

Não existe em Portugal uma valorização e leis específicas para os pequenos agricultores. Não há a ideia do “small is beautiful” isso faz com que as leis do setor estejam adaptadas a grandes empresas. Somos obrigados a fazer investimentos desnecessários o que aumenta os custos e retira rentabilidade. No entanto vivem-se tempos de transformação.